Estava me interrogando esses dias
acerca das diferentes angústias que sentimos- e me parecem ser diferentes-
entre o acontecimento de algo no mundo “real”- o nosso cotidiano- e a angústia
de falar deste acontecimento no divã, a angústia de ser analisante.
Quando eu sofro um acidente e perco
uma perna, isso me causa uma dor terrível, uma angústia. Mas a maior angústia,
que eu irei falar no divã, é a angústia que eu sentirei quando eu falo sobre o
que a perda dessa perna significa, o que ela representa em minha vida: Falarei
de quando eu corria, quando andava de bicicleta, etc. De tudo que eu perdi ou
penso perder quando perdi minha perna. A dor de perder uma perna é terrível,
mas o significado de perder uma perna é mais terrível ainda. Como diz Lacan, a
consciência é como uma tela, uma tela de televisão. A construção do
significado, da cadeia de significantes, ocorre alhures, em outro lugar. Isso é
o que Freud nota quando vai separar a consciência do inconsciente. A
consciência, o que quer que isso possa ser definido, é como algo que recebe
estímulos vindos do mundo, mas ela é burra. É do outro lado, dentro da cadeia
de significantes que isso vai trazer seus efeitos mais importantes. A perda da
perna é uma constatação e isso seria a consciência. Mas o que isso significa
para mim, que terei de usar uma perna mecânica agora, que não poderei dançar,
não poderei correr, ou que poderei fazer tudo isso, mas agora preciso utilizar
uma prótese, e como farei para conseguir uma prótese, toda essa estruturação logística
ocorre em outro lado, é os efeitos que o Real irá realizar em minha psiquê. Como a paciente que, uma vez, diz a Freud “mas
o senhor não vai mudar o mundo, como vai me ajudar?”. Certamente a psicanálise não muda o mundo(
não vai acabar com a miséria, por exemplo), mas vai poder mudar a atitude da
pessoa frente a este mundo, sua psiquê, ou seja, ele pode ir em busca de
encontrar formas de sair da miséria ou de lutar contra ela socialmente.
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