Palestra: A doença mental sobre o olhar da escuta psicanalítica
José Jacques
Quando eu comecei o grupo, eu e minha colega
psicóloga, que agora saiu do grupo, tínhamos a ideia de dar um espaço para os
paciente poderem falar. Um grupo de conversa, onde eles pudessem falar, relatar
suas angustias. Não é um grupo terapêutico, no sentido em que não buscamos uma
terapêutica pois isso iria contra as normas do CRP e poderia afetar a relação
deles com seus psiquiatras.
Mas era um espaço de fala. Notamos que muitos
desses pacientes não faziam terapia, apenas acompanhamento médico. Obviamente
qe os psiquiatras também conversam com eles, mas não é uma terapia exclusiva da
fala, como seria uma terapêutica psicanalítica.
O grupo não visa ser terapêutico. No entanto,
com o passar do tempo muitas coisas foram constatadas, o que implicou modificar
a direção do grupo com uma escuta mais psicanalítica. A psicanálise entra meio
enviesada no grupo, não é uma análise propriamente, até porque não há
psicanálise me grupo, mas ela permite nos dar instrumentos para pensar como
trabalhar com o grupo.
Em primeiro lugar, foi fácil constatar que as
queixas dos pacientes se assemelham em muito as queixas dos neuróticos. Sempre
são situações de angústia, lidar com a perda de alguém querido, com problemas
financeiros, lidar com pessoas que nos destratam, enfim. Lidar com a castração,
com essa angústia diária, lidar com o fato de que o mundo não é como imaginamos
e que nós somos limitados, não conseguimos dar conta de tudo.
Assim, no começo do grupo falávamos para eles
de terem uma alimentação natural, fazerem exercícios, procurar lidar melhor com
os familiares, etc. Ter uma vida social mais ativa. Enfim, bons conselhos, que
servem para nós também, mas que em geral, fracassam ali ou aqui. Sempre há um
fracasso, uma impossibilidade de sermos perfeitos, de termos uma vida perfeita.
Freud já teorizava isso quando falava da
miséria cotidiana. Como observou Lacan, em toda a obra de Freud, ele nunca fala
de felicidade. Freud nunca promete a felicidade. Promete que estaremos mais
aptos a trabalhar, resolver problemas. A vida humana é uma série de conflitos e
nós mesmos somos uma espécie dialética, mudamos de opinião, de posição, temos a
liberdade de modificar nossos conceitos e daí mesmo é onde opera a psicanálise.
Portanto, o grupo em primeiro lugar falava de
um fracasso. Um fracasso em fazer os pacientes terem uma vida mais social, em
eles conseguirem controlar melhor suas vidas, estarem mais estruturados.
Fracassávamos mesmo em conseguir organizar o
grupo para fazer um passeio. Foi então que eu pensei, o que estaria do outro
lado do fracasso? Porque vários pacientes não queria ter uma vida social mais
ativa por exemplo? O que eles queria na verdade, qual seu desejo?
É então que o grupo passa a ter outra direção,
onde se busca escutar os pacientes. O que eles realmente querem? O que desejam?
Não se trata mais de trabalhar eles para irem nos passeios do CPIP, mas de
interrogar porque eles não vão? O que eles querem então fazer?
Essa mudança é importante. Como dizia uma
colega minha psicanalista, é quando Freud deixa de falar e começa a escutar,
que as coisas mudam de figura. Ao escutar os pacientes várias significações
começam a surgir. O preconceito social que sofrem por serem os doentes mentais.
O preconceito por não se sentirem “normais”. Até as perdas de familiares que
tiveram, como eles lidam com isso.
Um dos pacientes, com uma esquizofrenia mais
crônica, mais desarticulado, traz certo dia a fala sobre a mãe que perdeu.
Então fala que sentiu muita tristeza, que amava muito ela. Isso é importante,
porque permite a esse paciente se sentir como sujeito, permite a ele demonstrar
ali uma metáfora, uma significação. Seu discurso psicótico é o que
verdadeiramente se diz, um inconsciente a céu aberto: Ele pula de um tema a
outro, de uma lembrança a outra, aparentemente sem um sentido. Aos poucos
agora, o grupo aprendeu a suportá-lo, a integrá-lo no grupo, mas esse paciente
era alguém que mexia muito com o grupo todo. Ele ali ter feito uma metáfora,
parece que indica uma direção de algo bom para sua patologia.
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Essa questão da significação eu gostaria de
falar de um caso famoso do psicanalista Contardo Calligaris. Era um de seus
pacientes, que tinha sido soldado no exército americano no Vietnam, depois foi
Hippie na Índia. Depois vai para a França, torna-se um rico empresário da
burguesia. Ele é levado pela esposa para análise porque está tendo um caso com
a sogra. Calligaris o analisa por um ano, sem saber ao certo porque ele vem.
Ele então desaparece da análise e Calligaris fica sabendo que ele está preso.
Descobre que ele estava em um bar e uns criminosos que planejavam um assalto
lhe convidam, ao acaso e ele decide ir.
Calligaris cria o conceito nesse caso de um
discurso como uma rede, onde linhas horizontais e verticais se perpassam, mas
sem um ponto de encontro, um ponto central. Ele fala da psicose como uma
errância, o paciente erra, mas não como o neurótico que tem um destino final na
sua errância, mas uma errância sem destino.
Nota-se no caso que Calligaris traz que tudo na
vida do paciente aparece sem um significado. Ele não está inserido no tesouro
das significações como o neurótico. Se ele fosse neurótico, a passagem de um
soldado para Hippie faria ele se interrogar, faria ele tentar compreender esses
dois lugares tão distintos. Ele nem mesmo cogita qual a significação de se
tornar um criminosos, cometer um assalto. Um neurótico ficaria de debatendo,
dialeticamente, por um bom tempo ou talvez para sempre, sobre o que significa
ele tornar-se um criminoso. Certo que um neurótico torna-se criminoso, mas ele
debate em seu íntimo o que significa ser criminoso, o que isso lhe acarreta, o
que isso instaura dentro de si.
E aqui entramos no seminário 2 de Lacan, sobre
como Freud concebe sua teoria psíquica e o lugar do eu.
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Freud escreve sua primeira tópica do aparelho
psíquico. Tudo parece funcionar corretamente, até que surge os problemas dos
sonhos. Freud nota que nos sonhos as
coisas se passam de uma forma diferente: por exemplo, se o sonhador tem fome, a
direção do aparelho psíquico, na primeira tópica, indicaria que ele iria
acordar e procurar comida, ir atrás de um bolo para comer, por exemplo. Mas não
é isso que acontece.
O sonhador sonha, ou seja, ele alucina um bolo
nos sonhos, exatamente para não acordar. O sonho serve como um protetor para
manter o sono. O sonhador vai sonhar que está comendo um bolo ao invés de
acordar e ir em busca de um bolo na realidade.
Isso faz com que Freud tenha de repensar sua
primeira tópica. Pois parece que o aparelho psíquico, ao invés de ir de um lado
a outro, do inconsciente para a consciência, nos sonhos faz um caminho
contrário.
Freud então vai criar sua segunda tópica, onde
isso é revisado.
Aqui, o que é importante, que Lacan ressalta, é
que a consciência surge como uma tela, um lugar onde os estímulos externos vão
ser recebidos, mas logo desaparecem. É em outro lugar, como diz Lacan, que as
coisas irão permanecer. As memórias, as significações, se darão do lado do
sujeito. Como a paciente que diz a Freud
que ele não pode mudar o mundo, não pode mudar as coisas que aconteceram e
acontecem a ela. E Freud responde, que certamente não, mas pode mudar a postura
que a paciente tem em relação a essas coisas. É a significação, o tesouro das
significações.
Para dar um exemplo, Freud não se interessa se
a pessoa relata o sonho como realmente aconteceu, de forma fidedigna, nem se
ela esqueceu todo o sonho, conservando apenas um pedaço dele. Para Freud o que
importa é o que aquele sonho significou para o paciente. É o relato do sonho o
mais importante.
Aqui uma diferença crucial da psicanálise. Se
um paciente relata que sua mãe é ruim, má, o psicanalista não vai buscar
conhecer a mãe do paciente para saber se ela realmente é má. Ela pode ser uma
pessoa extremamente gentil, isso pouco importa. Também não importa se o relato
do paciente é real ou se é fantasia. Ele é rela para o paciente, o paciente
acredita nele e é isso que importa. O relato está no lugar da verdade, a
verdade do paciente e é isso que importa na clínica psicanalítica.
Se um paciente tem medo de um cachorro, se o vê
como feroz e enorme, uma besta assustadora, pouco importa que esse cão seja um
chihuahua. A verdade, ela está do lado do inconsciente, ou seja, do significado
que esse cachorro ocupa na fobia do paciente, no seu medo.
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Entramos aqui na área da linguagem. Neste
seminário 2, Lacan vai falar do seu famoso esquema L. Mas para entende-lo temos
de falar do grande Outro e seu lugar na linguagem.
Interroguei a cerca disto com o psicanalista
Mario Fleig, pois este é um conceito crucial dentro da psicanálise. Tudo
começaria com os primeiro filósofos gregos, os que teriam vindo antes dos
sofistas.
Heidegger já apontava em seu texto, o que é
filosofia, que a filosofia ocidental tem uma característica própria de existir.
Ela marca uma posição de se interrogar sobre tudo, sobre o sentido das coisas.
É um ato de duvidar de tudo e buscar raciocinar sobre tudo o que há na vida.
Como diz Heidegger, o ser humano é o único ente que pensa o ser do ente. Os
animais não pensam sobre o sentido da vida, sobre o sentido dos seus atos. O
ser humano é o único que pensa o sentido, qual o sentido da natureza, do
universo, dos seus atos, o único ser que busca o sentido, que pensa o ser.
Pois bem, esses primeiros filósofos tinham uma
questão, que era como podemos mentir? Eles pensavam assim, nós temos um saber,
digamos eu sei que tem 5 laranjas em um cesto, como posso mentir, dizer que tem
7? Como posso ir contra o meu saber? Se eu sei que tem seis, como posso dizer
outro saber, ter um outro saber?
Eles então teorizaram a questão do UM perfeito,
do ser perfeito. Eles teorizaram que haveria um Ser perfeito que validava um
saber. Se eu digo que tem 5, 6 ou 7 laranjas, são saberes diferentes, mas eu
dizer que tem 5 seria um saber verdadeiro pois teria uma validade, realmente
haveria um cesto com 5 laranjas. A posteori vai surgir os sofistas, onde irão
filosofar que o que importa é que o discurso seja bem falado, bem organizado,
ou seja, que o discurso seja convincente. Se eu convencer vocês que existem 6
laranjas, isso seria tomado como verdade, seja ela ou não. Platão vai na
direção contrária dos Sofistas, criando depois o mundo das ideias, onde a ideia
é que seria perfeita. Segue depois em Aristóteles, onde ele vai falar de
lógica, onde a verdade estaria dentro da própria estrutura lógica.
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Mas retomando a questão do grande Outro, esse
conceito de ser superior é retomado em Descarte, no seu racionalismo. E, como
diz Lacan, Descarte não deixa de cair em um conceito de Deus enganador.
Esse ser superior dos gregos não é de modo
algum nosso conceito de Deus. Nosso conceito de um ser superior já está
estruturado em uma visão cristã. Para os gregos, seria um lugar que asseguraria
a verdade. Mas Descarte nota que, se há um ser superior, ele nos engana.
Porque não basta muito para a gente notar que o
mundo não funciona de forma organizada. Não há muita justiça no mundo, algumas
pessoas sofrem um destino funesto mesmo sendo inocentes e boas. O mundo não
funciona de forma organizada, a vida parece não ter muito sentido, o próprio da
evolução das espécies vivas parece não ter nenhum propósito.
É nesse sentido que Lacan vai dizer que o
grande Outro não existe, mas seu campo existe. Não haveria um ser superior, não
haveria o ao menos um que escapa da castração, mas haveria o seu campo.
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Quando vamos ao médico por exemplo, e ele nos
dá um diagnóstico, acreditamos em seu saber médico, em seu conhecimento. Há uma
lógica dentro de seu raciocínio, mas como desconhecemos medicina, temos de
acreditar em seus argumentos em crer que o que ele diz é a verdade.
Freud quando começa a trabalhar com seus
pacientes, ele começa utilizando a hipnose com seu mestre Charcot. A hipnose o
que isso significa? O método hipnótico
implica que o paciente abre mão de seu livre arbítrio e, pela figura de
autoridade do hipnotizador, permite receber comandos deste. Para haver hipnose,
é necessário que o hipnotizador encarne uma figura de autoridade, ou seja que o
paciente confie inteiramente nele. Assim, o paciente permite ao hipnotizador
tomar o controle de si mesmo.
Freud começa trabalhando com a hipnose vai
modificando o método aos poucos, pois notava que esta tem um efeito temporário,
além de que muitos não eram hipnotizados. Mas da hipnose, Freud retira sua
grande teoria da transferência.
Para haver transferência, é preciso que a
figura do analista se confunda com a do grande Outro. Ou seja, quando o
paciente chega ao analista ele supõe nesse um saber, supõe que ele tem todas as
respostas. Ele confunde o analista pessoa de carne e osso com o grande Outro,
esse que teria todas as respostas da vida. A partir deste lugar do grande Outro
que o psicanalista vai operar, mas, diferente do que acontece normalmente, ele
não vai usar esse lugar para dar sugestões ao paciente, mas vai devolver o que
o paciente lhe traz, para esvaziar este lugar do grande Outro.
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Hoje em dia fala-se muito da autoajuda. A
autoajuda representa essa dimensão onde se teria resposta para tudo. Como se
tornar uma pessoa perfeita, ter uma vida perfeita, todas as respostas estão lá.
Mas como sublinhou uma vez o psicanalista Caon, no Brasil temos resposta para
tudo, quando na verdade que importa é as perguntas. As perguntas bem formuladas
é que são a direção da busca do conhecimento. As respostas achadas sempre são
insuficientes.
O ideal da psicanálise é jogar o sujeito nessa
posição de ser um filósofo, ou seja, questionar tudo. É pelo questionamento que
se permite aos sujeitos raciocinarem e utilizarem a lógica em suas vidas.
E aqui pensamos o conceito de Piaget de operador
lógico. O homem é esse que utiliza a lógica em sua vida, no seu mundo. Ele
opera com a lógica.
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A lógica seria o mundo simbólico. Pensem que
quando nós falamos existe uma estrutura gramatical, uma morfologia, toda uma
forma de produzir discurso dentro da linguagem.
Por exemplo, se eu digo “meu nome é Jacques”,
isso tem um sentido que todos que falam português podem entender. Se existe
alguém que não fale português, que fale alemão por exemplo, ele não entenderia
o sentido dessa frase. Mas se eu digo “Eu Eduardo não Leandro sou Jacques”.
Essa frase estaria perdendo o sentido, seria uma estrutura psicótica, ou seja,
o sentido simbólico que nós compartilhamos já não estaria sendo passado.
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Lacan cria o conceito de nome do pai, o nom do
pér, onde nome é semelhante a não no francês. Lacan dizia que o filho é como
uma presa para a mãe. O desejo da mãe seria como um jacaré de boca aberta. O
não do pai, seria como um pedaço de pau, qualquer coisa que impedisse o filho
de cair nesse desejo gigantesco.
O bebê, em sua relação com a mãe, assume ela
como sendo o mundo. A mãe é tudo que ele conhece, é todo seu mundo. Ele é,
digamos, um marionete nas mãos do desejo da mãe. É preciso que surja algo, um
terceiro, algo do mundo que separe a mãe e o bebê. Pode ser algo simples,
digamos que a mãe precise dar atenção a um namorado ou precise assistir TV. É
algo que faça uma fissura na relação mãe-bebê, mostrando que há outras coisas,
um outro mundo além dessa relação.
Esse terceiro ponto, que é o nome do pai, será
o lugar do grande Outro, será quem vetoriza, quem dá um sentido, uma direção.
É o que faz com que vocês entendam aquilo que
eu falo é o que faz com que minha fala tenha um sentido ou seja, que está
direcionada para a verdade.
Nós nunca alcançamos a verdade absoluta, mas
nos dirigimos para ela. Por isso Lacan situa a linguagem como circulando a
verdade, a verdade é sempre dita. Nosso discurso tangencia a verdade mas não a
alcança.
Um exemplo disso está na própria religião. O
verdadeiro crente sempre mantém em si algo de uma dúvida em relação a sua
religião, uma dúvida se Deus realmente existe. É esse lugar de dúvida que faz
com que várias religiões briguem entre si. Se pensarmos tanto católicos como
judeus, mulçumanos, budistas, todos temos o mesmo Deus, Deus é um só. É porque
se pode duvidar de seu lugar, daquilo que Deus quer, onde cada religião vai
interpretar o que Deus quer a seu modo que surgem as brigas. Cada um interpreta
a seu modo o que Deus quer e está feita a briga.
Imaginem se, por acaso, o céu se abrisse e uma
voz lá do alto falasse. O que quer que a voz de Deus falasse, não se poderia
contestar. Ela seria absoluta. Seria ai o lugar da verdade absoluta,
incontestável.
A psicose estaria neste lugar, onde o delírio
surge como um significante com um significado absoluto, único. Ao contrário da
neurose, onde sempre há a dúvida, na psicose há uma certeza no delírio.
Uma vez, em uma apresentação de pacientes com o
psicanalista Mario Fleig, um paciente psicótico relata quando passou perto de
uma igreja e ali pensou que era Jesus. Fleig depois demonstra para nós que, o
momento em que o paciente diz que pensou que era Jesus, que achava que era
Jesus, é um momento depois do surto. Na hora em que ele estava em surto, ele
não tinha dúvidas, ele era Jesus. Isso é uma característica da psicose, a falta
do nome do pai no campo simbólico surge como um delírio de certeza no Real. No
delírio, ele era Jesus no Real.
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A estrutura psicótica possui assim uma base
fisiológica também, como diz Lacan, não é psicótico quem quer. Haveria uma
pré-disposição para a psicose. Essa pré-disposição seria este algo que fracassa
na aquisição da linguagem. Isto que vetoriza o sujeito e que dá o lugar da
verdade. Por isso que a verdade é sempre a verdade do sujeito. A realidade
psíquica, em psicanálise, é sempre a realidade do sujeito. Embora no simbólico
compartilhamos uma mesma realidade através da lógica, da estrutura simbólica, o
imaginário, as significações, são da ordem do singular.
Imagine que três pessoas vão falar sobre o
cachorro. Cachorro é um termo universal, é um animal do nosso mundo, é um ser
que tem um conceito científico. Mas o que um cachorro significa para cada um é
diferente. Quando penso em cachorro, pode vir a lembrança do meu cachorro da
infância, do meu cachorro que eu tenho, de um cachorro que me mordeu etc. Para
cada um dos três sujeitos o conceito, o significado de cachorro é diferente. Por
isso a significação comporta algo de singular, da nossa singularidade e é isso
que nos faz sujeitos.
Imagine por exemplo duas pessoas, uma sofre um
acidente de carro e nem se importa, aquilo para ela é comum, ela até esquece
que sofreu. Outra sofre o mesmo acidente, mas isso faz com que ela nunca mais
entre em um carro. Veja que novamente as significações do evento ocorrido são
diferentes para cada pessoa.
É por isso que na psicologia se busca dar voz
para as pessoas. Não faz muito tempo, na década de 50,60 se realizou o
movimento antimaniconial. Era uma forma de mostrar que os doentes mentais eram
pessoas. O que isso quer dizer? Quer dizer que eles possam falar, ter voz.
Os doentes mentais saem daquele lugar de que
tudo que dizem não tem importância, é loucura, sua fala não importa porque são
doentes. Isso é algo que buscamos assegurar no grupo de conversa, que eles
tenham voz, que possam dizer o que querem.
Quando a psicologia luta pela subjetividade das pessoas, luta para que
elas possam se expressar, possam dizer o que querem.
Cada um possui um saber, uma cadeia de
significações singular e é importante que sejam escutados. Uma sociedade melhor
implica nisso, escutar os doentes mentais, os autistas, os deficientes, os
transgêneros, homossexuais, etc. Que eles tenham um lugar para falar, pois ser
um ser humano, um cidadão, é ter um espaço de fala, de traduzir sua
singularidade dentro do universo simbólico.
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E para falar de singularidade, temos de falar
do esquema L de Lacan, que vai nos mostrar como uma análise funciona, como é o
método psicanalítico concebido por Freud. Lacan como sempre sublinhou, faz um
retorno a Freud, é a mesma teoria, o mesmo método que Freud utiliza.
Como falei anteriormente, na transferência o
paciente confunde o analista com o grande Outro. Ao fazer essa confusão, ele
pode sair do lugar de espelhamento, que Lacan chamou de a-a linha. Esse lugar
seria a relação do eu com o outro minúsculo, como o seu semelhante. Digamos que
alguém lhe conte uma fantasia sexual. Você pode dizer que tem a mesma fantasia,
pode dizer que isso é nojento, que ele não deveria pensar essas coisas, que é
pecado ou que é normal, etc. Enfim, quando fazemos isso nos colocamos na mesma
relação com a outra pessoa. Ou seja, damos um julgamento, ou um parecer sobre
aquilo que ela nos diz. O ego, o eu, sempre está nessa relação de espelhamento
com o outro. É por isso que para Freud o ego é dinâmico. Se vocês estão em um
grupo que é homofóbico, se defenderem a homossexualidade, não serão bem vistos
no grupo, ou seja, serão constrangidos e acabarão tendo de ser homofóbicos se
quiserem pertencer ao grupo. Se estão em um grupo que é contra a homofobia
vocês serão enaltecidos ao defenderem a homossexualidade. Como vêm, o ego é
dinâmico, se modifica também conforme os grupos sociais a que pertence.
Mas Freud nota que para além deste eu há um
outro lugar, o lugar do sujeito inconsciente. O ser humano de Freud é um
sujeito dividido, fracionado, sem possibilidade de ser completo.
Digamos que, como no exemplo anterior, o
sujeito lhes conta uma fantasia sexual e vocês devolvem a ele, perguntam, o que
você acha que essa fantasia significa para você?
Na medida em que o analista ocupa esse outro
lugar, onde o significado da fantasia já não será dado pelo outro, por seu
semelhante- e vejam, no modelo anterior era o semelhante que dizia se a
fantasia era algo comum ou pecado- quem vai buscar o significado é o próprio
sujeito que externou a fantasia.
Ao sair dessa relação especular entre o eu e o
outro, aparece então o sujeito do inconsciente. Esse sujeito do inconsciente
está em relação ao grande Outro, esse lugar imaginário onde o paciente coloca o
analista.
O sujeito do inconsciente é o tesouro dos
significantes, isto é, o lugar onde o paciente vai produzir sua significação,
sua singularidade.
São os efeitos dos discursos da sociedade, dos
pais, da sua cultura. O fato de habitar a linguagem faz com que isso crie
efeitos em nós, produzindo o que chamamos de sujeito.
Quando Sócrates pronuncia a famosa frase,
conhece a ti mesmo, esse tu mesmo é um remeter ao sujeito. É o tu, tu mesmo.
Assim, não é o que os outros acham que é política, o que me dizem o que é
política, mas o que eu, eu mesmo acho que é política.
Quando Piaget vai falar de educação, ele
ressalta que o mais importante é o aluno produzir um raciocínio para atingir a
resposta certa, que isso é mais importante do que ter a resposta certa. É a
construção do pensamento. O bom educador ensina o aluno a construir um
raciocínio para achar a resposta, ao invés de apenas lhe fazer repetir um
raciocínio já pronto, construído.
Lacan ressalta que o mais escandaloso em Freud,
quando Freud começa a investigar o inconsciente, é que uma parte nele não só
não sabe o que o diz, mas que ele nem mesmo sabe quem o diz, quem é este
sujeito que fala. O discurso advindo do inconsciente, essa fala que tenta
passar Freud não sabe nem mesmo quem é esse sujeito que fala.
O quando o paciente em análise diz tudo que lhe
vier a cabeça e de repente vem uma frase, um conteúdo recalcado e quando o
analista pontua o paciente nem mesmo se dá conta que a frase é dele, foi ele
que disse. Calligaris cita o exemplo de que, nunca encontrou um paciente
homofóbico que não tivesse sua homossexualidade recalcada em conflito.
Ao analisar-se, um paciente homofóbico que siga
a regra da associação livre logo vai se deparar com a sua própria questão de
homossexualidade. E é ele mesmo que falou, como diz o psicanalista Caon, uma
vez que algo foi dito não se pode desdizer, foi falado. Pode-se tentar
retratar, dizer que não era esse sentido, pouco importa. O que foi dito está
dito.
É porque se diz muito mais do que se quer
dizer, é porque falamos mais do que pretendíamos que a análise pode se efetuar.
Os sonhos, para Freud, eram a via régia ao inconsciente. Eles representavam uma
fala tentando passar. Aqui temos de fazer a diferenciação entre experiência e
vivência.
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A Análise funciona, porque se fala da
experiência, não da vivência. Ter um trauma, viver um trauma é uma coisa. Mas
quando falamos desse trauma, o que esse trauma simbolizou para nós, isso é
experiência, é fazer uma significação do que foi vivido. É por isso que na
análise o paciente pode passar do desespero de ter vivido um trauma, uma perda,
para transformar isso em algo libertador, um presente, uma felicidade.
Se a pessoa perde alguém amado, pode ficar em
uma cama por dias, lamentando a pessoa amada. Mas pode também usar isso para ir
atrás de outra pessoa e encontrar alguém que considere melhor e assim produzir
o significado que a perda da pessoa amada foi muito bom, porque pode enfim
achar alguém melhor. Vivência é o que estamos vivendo. Mas quando refletimos,
pensamos no que aconteceu, isso se torna experiência.
Os sonhos são vivência. Nunca saberemos ao
certo o que aconteceu dentro do sonho. Sabemos da sua elaboração, que já
acontece ao acordar. Quando o paciente está contando um sonho, ele está
relatando algo que ele vivenciou. Ao tentar entender o sonho, ele está assim
adquirindo experiência, ou seja, refletindo neste lugar do eu, eu mesmo, como
eu mesmo entendo aquele sonho que aconteceu. Por isso que o sonho é uma via ao
inconsciente, ao que o paciente tem de mais singular, pois ninguém tem um sonho
idêntico a outra pessoa.
Quando Freud vai falar dos sonhos, ele diz que,
se o paciente sonha com o pai, essa figura do pai já é uma composição. Se o pai
está rindo, está chorando, etc aquele pai que aparece no sonho ele é uma
composição de vários momentos da vida do sonhador. Se o pai está usando um
chapéu, Freud conseguia com a análise fazer o paciente lembrar de uma ocasião
onde seu pai estava de chapéu e que foi importante para o sonhador.
Assim também o mesmo acontece com as
lembranças. Uma lembrança vívida que nós temos, da nossa infância, já está
misturada com outras posteriores que a afetaram. Essa lembrança é uma
condensação de vários pedaços em algo imaginário.
Imagine quando nós lemos um livro, nós
guardamos uma parte do livro, não todo ele. Uma parte que é significativa para
nós, que se entrelaça na nossa forma de pensar de perceber o mundo. Talvez
tenha uma passagem importante lá no livro que eu não perceba, exatamente porque
eu não dou valor. Por isso que existe certos casos de autismo onde o sujeito
consegue lembrar de todo o livro, sabe onde está cada palavra do livro, mesmo
que seja um livro de 1000 páginas, mesmo que tenha lido só uma vez. Mas esse
mesmo autista, com essa memória formidável, não consegue ler uma poesia do
Mario Quintana e dizer o que ela significou, o que ela representa. Ele não
consegue fazer uma interpretação de texto, produzir algo sobre o que aquele
poema causou nele, porque ele não consegue responder do lugar de si mesmo, de
sujeito.
Na psicose também há um fracasso disso e vemos
isso em maior ou menor grau. Um dos pacientes do grupo é um excelente pintor,
produz quadros lindos na aula de pintura. E eu o questiono, ele não pinta em
casa? Porque não produz quadros quando não está na aula? Mas ele não o faz,
porque isso seria se implicar nas coisas. Como diz o psicanalista Mario Fleig,
a análise visa fazer o sujeito se implicar, isso muda a vida dele. Eu diria que
é o momento em que saímos do lugar de plateia e subimos ao palco. Subir ao
placo é perigoso, podemos errar o texto, não sabemos como as coisas vão
ocorrer, etc. A plateia sempre está segura no seu lugar de plateia, de
ausência, de não fazer nada.
É algo característico do brasileiro, ele
assiste tv parado, só olhando, depois vai para a Igreja, fica só olhando, vendo
o pastor falar, depois vai para o comício, na mesma passividade bovina de ficar
escutando o político. O brasileiro nunca sobe no palco, não se arrisca.
O neurótico, se o jogamos nesse lugar onde ele
tem de se implicar, tomar a frente, aguentar as coisas no osso do peito, como
se diz, ele vai, meio assustado, capenga, mas consegue ir. Consegue se
implicar, ocupar esse lugar do eu, eu mesmo. O lugar de se sustentar a si
mesmo. O psicótico não consegue, quando tem de responder do lugar de sujeito,
ele não acha a metáfora paterna. Ele não consegue responder do lugar do si
mesmo, porque está faltando isso que dá peso as significações.
Por isso os pacientes do grupo de conversa não
podem ser levados a um extremo de uma angústia ou um stress. Porque não se sabe
até aonde suas metáforas poderão segurá-los. Ele pode acabar fazendo um surto,
produzindo um delírio onde o material recalcado retorna no Real.
Não podemos cobrar deles da mesma forma que se
cobra de um neurótico. O neurótico frente a angústia faz um sintoma, talvez
fique uns dias dentro de casa, talvez passe uns dias chorando ou vai fazer
coisas que nunca fez na vida, pouco importa. Ele sempre acha um rumo, sempre
acha algo que lhe segura. Por maior que seja a angústia, ele consegue produzir
algo com ela e continuar a vida. Na psicose, frente a uma grande angústia, o
sujeito pode produzir um delírio, esse delírio é uma certeza para ele, pois vem
em suplência do lugar onde o grande Outro nos assegura ser a direção da
verdade.
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Para finalizar, gostaria de falar para vocês de
alguns aspectos do funcionamento psíquico do neurótico. Heidegger cria o termo
Dasein, para falar do ser-aí, o vivente com diz Caon, este que está ai. Este
que nós somos, no presente. Heidegger diz que o ser-aí sempre é chamado para
dar testemunho do seu ser, prestar contas do seu ser. E isso é uma
impossibilidade, haja vista que não conseguimos ter uma compreensão total da
nossa existência. É por isso que se implicar, responder do lugar de sujeito,
desse lugar do eu, eu mesmo, sempre é angustiante para o neurótico. Porque ele
nunca está bem certo que lugar é este. Como diz Freud, é o mal estar da
civilização, o estar mal, estar em um lugar que nunca é exatamente seguro.
A análise comporta assim dois momentos: um onde
vem a fala do inconsciente, onde falamos algo através da associação livre, uma
fala que espanta a nós mesmos e que nem aprece ser nossa, para um segundo
momento, onde tomamos essa fala como nossa e refletimos sobre ela. Esse
primeiro momento é o lugar do desejo, onde o desejo inconsciente aparece.
Imagine por exemplo uma mãe que é dedicada a seu filho, que o ama muito. Mas
ela está cansada, talvez irritada com algo que ele fez. E em um dado momento da
análise, ele diz “eu gostaria de nem ter tido esse filho”. Não quer dizer que
ela o odeie ou que realmente não o quisesse ter, mas quer dizer que naquele
momento de stress ela não o queria ter tido. Ao abrir um significante em uma
análise, a cadeia de significados corre para todos os lados. Nos amamos nossos
filhos, mas também os odiamos às vezes. Ao dizer essa frase de que não gostaria
de ter tido esse filho, a mãe constata que, dentro de si, também há um ódio as
vezes, que nem sempre é bom ter esse filho. Isso não importa. O que importa é
que ela descobre que ela possui essa parte dentro dela. O que ela fará com
isso, qual a reflexão que ela vai tirar disto, não se sabe. Mas em geral não
significa que ela vai abandonar o filho,
mas sim que ela constata que um pouco de ódio também faz parte da criação de um
filho, pois se perde algo também, ao se ter um filho. Assim a análise comporta dois tempos, um
tempo passado, quando se constata a fala advinda do inconsciente e um tempo
futuro onde o eu vai ter que lidar com essa parte que agora também é do
sujeito.
O inconsciente é um lugar de incógnita, ele diz
de um lugar de onde não sabemos exatamente como o mundo e as pessoas nos
afetam, vemos apenas os feitos disso e refletimos em cima disso.
A lógica do inconsciente diz de uma estrutura
que está agindo em nós sem nos darmos conta e só a posteori nosso eu consegue
trabalhar com ela e operar logicamente dentro da estrutura simbólica.
Pensem nas pessoas por quem a gente se
apaixona. Se analisarmos, veremos que há um padrão, que a pessoa por quem nos
apaixonamos tem uma certa lógica que a escolheu. A profissão que escolhemos, se
vamos ser astronautas ou psicólogos. Parece ter acontecido ao acaso. Mas o que
Freud nos ensina é que não há acaso. O melhor exemplo que ele dá é a gente
escolher um número a acaso. Esse número será tudo, menos ao acaso. Tem uma
lógica aí embaixo que não percebemos, por isso chamamos inconsciente. Se
fizermos uma associação livre, vamos descobrir que esse número tem um grande
significado em nossas vidas, que nos diz algo. Isso é importante ter em mente,
porque quando Freud analisa um ato falho, ele analisa sempre depois que ele
ocorreu. Nos damos conta do ato falho depois que ele acontece. Eu vou dizer o
nome de Freud e falo Lacan, reconheço meu ato falho, analiso ele, mas a lógica
que fez o ato falho acontecer eu não tive consciência dela ela agiu em mim e eu
só a reconheço depois. É depois que o sonho acontece que eu penso e reflito
sobre ele, nunca durante. Se eu falo algo que não devia, é só depois que eu me
dou conta, o que me levou a falar isso, no momento em que estava falando eu não
consigo controlar. Por isso Freud vai dizer que somos controlados pelo
inconsciente, que a lógica que rege nossas vidas eu só percebo depois que
aconteceu. Por isso o lugar do sujeito do inconsciente sempre é uma incógnita,
é ali onde eu não penso, onde estou à mercê de um funcionamento lógico do qual
não controlo. É claro que o que o eu vai fazer com isso, entrará na
racionalidade, no que eu posso fazer com meu desejo. Quer dizer que eu constato
que sinto ódio de alguém, mas o que eu faço com esse ódio, se eu me afasto da pessoa,
se eu a mato, se eu deixo isso e lado para ficar amigo dela, há toda uma gama
de possibilidades do ego de manejar esse conteúdo vindo do inconsciente. Posso
matar a pessoa apenas na fantasia, em um devaneio e assim estar bem para mim,
não preciso ne xingar a pessoa. O ego
tem a racionalidade, a lógica racional, que nos permite lidar com as coisas no
mundo e buscar uma forma mais adequada de organizar, estruturar elas. Mas a
melhor forma, o caminho mais lógico implica que essa lógica esteja organizada
em um sentido, que me dá a dimensão da verdade.
Digamos que, para eu comer uma banana, a forma
mais lógica seja eu descascar essa banana. É o método mais correto, no sentido
de que a banana mais saborosa é aquela sem casca. Mas na psicose não há essa
dimensão, esse terceiro ponto que indica o melhor método, que indica onde está
a verdade. É como se aquilo que diferencia a banana sem casca da banana com
casca não existisse, então a lógica de descascar a banana não faz sentido. Com a falta deste sentido, o psicótico vai
produzir um delírio, uma formação inconsciente que surge como uma verdade
absoluta, que irá surgir no Real. Um dos nossos pacientes, paranoicos, ouve
pessoas chamando ele de veado. Seu psiquiatra lhe diz para duvidar dessas vozes
e é o que dizemos para ele também no CPIP, que essas vozes são suas
“paranóias”, como ele mesmo diz.
Mas quando elas acontecem, quando ele a está
ouvindo, a voz é real. Ele não consegue diferenciar, no momento, a voz
imaginária de uma voz real, para ele é tudo a mesma coisa. Se ele fosse
neurótico, ele diria “parecia que alguém me chamou de veado”. Veja diferença,
na neurose ele põe em causa, ele duvida se foi real ou não. O imaginário, para
o neurótico, nunca é absoluto, é o fantasma, ele pode ser e pode não ser, é o
ser e não ser, algo que é e também não é como a alma humana. A psique humana é
essa transcendência, ela existe e não existe, está no corpo mas também não
está. Chemama teoriza que a pulsão de Freud é um conceito que visa unir a parte
física com a psíquica. Depois que a pessoa morre, não há mais psiquê. Mas sem o
corpo, também não há psiquê. Não fazemos psicologia de fantasmas, de almas
desencarnadas.
Na psicose não há essa dúvida a voz que o
paciente escuta existe, a voz imaginária que é dele toma forma, surge no Real.
Penso que o trabalho de um grupo de conversa com psicóticos é o de tentar
produzir algumas metáfora, tentar estruturar a vida dos sujeitos. Ajudar a ver
até aonde eles conseguem se socializar, realizar as atividades etc. Sempre escutando
seus limites. Lembremos de James Joyce, que Lacan diz ter conseguido produzir
alguma metáfora que o auxiliou por toda a vida, na sua atividade de escritor.
Penso que quando falamos aos pacientes que eles
não são apenas doentes mentais que tem um problema, que não conseguem ser
normais, mas que na verdade todos nós temos nossa patologia, neuróticos,
psicóticos e perversos. Acontece apenas de que os neuróticos são maioria, por
isso são ditos “normais”, a norma. Que os psicóticos tem que encontrar a sua maneira
de viver com sua patologia, seu lugar no mundo, assim como os neuróticos são
obrigados a lidar com seus sintomas. Ao falarmos isso, penso que já damos aos
pacientes um outro olhar sobre seu lugar social, o que possibilita enxergar sua
doença com outros olhos e assim construir um significado diferente da sua
doença. Um significado menos patológico,
que possa lhes servir de metáfora.
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